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17/08/2011
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Unificada, Raízen sai do papel e vai para o ataque
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A Raízen, joint venture formada pelos grupos Cosan e Shell, que atua de forma integrada desde 1º junho, garante não estar em busca de uma identidade. Diz que já tem a sua própria cultura, fruto da mistura da atuação agressiva do fundador da maior companhia brasileira de etanol, Rubens Ometto, com o peso da "concha" no mercado internacional, símbolo de uma das maiores companhias petrolíferas do mundo. Então, como acomodar dois mastodontes em uma única empresa? Vasco Dias, CEO da Raízen, não se sente intimidado. "Construímos a nossa identidade e vamos seguir em frente", diz o executivo ao Valor. Com um orçamento de US$ 7 bilhões que deverá ser investido até 2015, a Raízen começa a colocar em prática seu plano de expansão. A empresa criou uma trading exclusiva para comercializar etanol no mercado mundial. A primeira base foi inaugurada em Londres e outras duas serão abertas ainda este ano - uma em Cingapura e outra em Houston, EUA. "Vamos comercializar álcool combustível e também industrial", afirma Dias. Parcerias para distribuir etanol para as indústrias químicas, a exemplo do que já faz com a Braskem, também estão sendo costuradas fora o Brasil. A empresa não detalha suas estratégias por respeitar período de silêncio, que se encerrou ontem à noite. O estilo agressivo de fazer negócios permeia a união entre as duas companhias. De um lado, o desejo de Rubens Ometto de tornar o etanol uma commodity internacional. Do outro, os planos da Shell de investir em biocombustível, como parte da estratégia de crescimento para as próximas décadas.
No mercado interno, o foco da Raízen é avançar em distribuição de combustíveis. A meta para a comercialização dos produtos sai dos 20 bilhões de litros, negociados em 2010, para 22 bilhões este ano.
O grande salto será até 2015, quando deverá atingir 28 bilhões de litros.
"Esse é o nosso plano. Acreditamos que nossa marca é muito forte. Nossa rede é a melhor. Vamos investir em marketing e produtos diferenciados", diz.
Com uma produção atual de cerca de 60 milhões de toneladas de cana e 2,2 bilhões de litros de etanol, a Raízen objetiva processar até 2015 cerca de 100 milhões de toneladas da matéria-prima, o que vai gerar 5 bilhões de litros de álcool. A oferta de açúcar saltará de 4 milhões de toneladas para 6 milhões de toneladas no mesmo período. A empresa obteve este ano a certificação do Bonsucro, como a primeira companhia do mundo que pode exportar açúcar e etanol para a União Europeia dentro do conceito de sustentabilidade, informa Luiz Eduardo Osorio, vice-presidente de desenvolvimento sustentável e relações externas.
"A associação entre as duas empresas tem por objetivo consolidar, obter as sinergias e ter crescimento agressivo tanto no upstream [produção], como no downstream [distribuição]", afirma Dias. Isso significa que a Raízen está de olho em todos os negócios que façam sentido para crescer nas duas principais áreas de atuação: produção de cana e distribuição de combustíveis.
"Não fizemos a associação para ficarmos do mesmo tamanho."
Em distribuição, a empresa pretende crescer por meio de aquisições e avançar nos postos de bandeira branca, sobretudo. A rede AleSat, com sede no Nordeste, é apontada como objeto de cobiça tanto pela Raízen como pelo Ultra, hoje o vice-líder em distribuição, com as bandeiras Ipiranga e Texaco. Vasco Dias desconversa: "Qualquer bom negócio me interessa."
O avanço da Raízen na produção de cana terá duas vertentes: aquisições de usinas em operação e projetos "greenfield" (construção a partir do zero). Mas Dias observa que as condições atuais para "greenfield" não são as melhores. "Vale mais a pena fazer aquisição ou ampliar as usinas já existentes. Comprar usina do vizinho não resolve o problema do Brasil [em relação à garantia de abastecimento], resolve o meu."
Segundo Dias, o setor está em conversas com o governo para discutir incentivos para projetos nos moldes "greenfield", que já contam com o apoio do BNDES. As discussões passam também por garantias de cogeração de energia a partir da biomassa. A companhia deverá investir na construção de pelo menos sete novas usinas de etanol nos próximos anos para atender à crescente demanda interna e externa. Aquisições estão no radar da empresa. O grupo não revela os planos para o segmento de querosene de aviação. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) determinou que a Raízen desinvista parte do negócio que foi adquirido com a joint venture e a companhia está analisando a determinação do órgão antitruste.
Egresso da CSN, Vasco Dias esteve à frente nesses últimos anos dos negócios da Shell do Brasil, antes de assumir a Raízen. Conhecido no mercado como um executivo "ligado no 220", Dias trabalha pelo menos 12 horas por dia, principalmente nos últimos meses. O executivo ainda encontra tempo para jogar tênis, mas invariavelmente com os executivos da Raízen. Janta fora, muitas vezes, só para discutir negócios. "O mais importante é gostar do que você faz." E ele gosta.
Poucas coisas o tiram do eixo. Em março, durante evento com os revendedores da Shell e da Esso - cerca de 1.500 pessoas -, sentiu um frio na barriga. Afinal de contas, as duas maiores empresas eram concorrentes. "Peguei no microfone e disse que era um homem realizado por nunca imaginar que conseguiria reunir no mesmo local Esso e Shell." O gelo foi quebrado. Vasco Dias seguiu em frente. "Culturalmente, o negócio está ficando mais com a cara de Raízen, em um tempo menor que eu imaginava. Os acionistas estão satisfeitos".
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Fonte: Valor Online
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